segunda-feira, 25 de junho de 2012

O Equilibrista


(Orides Fontela)
















Essencialmente equilíbrio:
nem máximo nem minimo.

Caminho determinado
movimentos precisos sempre
medo controlado máscara
de serenidade difícil.

Atenção dirigida olhar reto
pés sobre o fio sobre a lâmina 
ser numa só idéia nítida
equilíbrio. Equilíbrio.

Acaba a prova? Só quando
o trapézio oferece o vôo
e a queda possível desafia
a precisão do corpo todo.

Acaba a prova se a aventura 
inda mais aguda se mostra
mortal intensa desumana
desequilíbrio essencialmente.


 (São João da Boa Vista SP, 1940 - Campos do Jordão SP, 1998) publicou seus primeiros poemas em 1956. Em 1967 teve dois poemas publicados no Suplemento Literário de O Estado de S. Paulo. Seu primeiro livro de poesia foi lançado em 1969. Recebeu o prêmio Jabuti de Poesia, em 1983, pelo livro Alba, e o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte, em 1996, pelo livro Teia.


Alunos:
Jedielson Luiz     Nº 21
Larissa Medeiros   Nº 25

terça-feira, 19 de junho de 2012

Fala

(Orides Fontela)



















Tudo será difícil de dizer:
a palavra real
nunca é suave.


Tudo será duro:
luz impiedosa
excessiva vivência
consciência demais do ser.


Tudo será
capaz de ferir. Será
agressivamente real.
Tão real que nos despedaça.


Não há piedade nos signos
e nem o amor: o ser
é excessivamente lúcido
e a palavra é densa e nos fere.


(Toda palavra é crueldade.)




24 de abril de 1940. Numa pequena cidade,"com montanhas arcaicas, ventre de um sol perfeito de uma infinita Lua", chamada São João da Boa Vista, exatamente às 23 horas, ali na Rua Oscar Janson, nº 18, nasce Orides de Lourdes Teixeira Fontela. Filha de Álvaro Fontela, “plainador”, carpinteiro, como disse Orides em um documento escolar e Laurinda Teixeira Fontela, dona de casa. Orides nasceu no seio de uma família modesta, sem recursos financeiros, porém, pessoas honradas e trabalhadoras. Amavam a única filha. Tiveram outra, que morreu ao nascer, a quem Orides dedicou o “Soneto à minha irmã”. Seu pai Álvaro, descendente de espanhóis vindo da Galícia, era analfabeto, mas muito criativo; sua mãe Laurinda, que descendia de portugueses, era alfabetizada e ensinou as primeiras letras a Orides. Um tio, irmão de sua mãe, era dono de uma papelaria e de certa forma tornou-se o protetor da família.


Alunas: Krisla Ripardo  nº: 23
              Larissa Luana  nº: 24

terça-feira, 12 de junho de 2012

Humildade


(Cecília Meireles)




Tanto que fazer !
Livros que não se lêem, cartas que não se escrevem,
línguas que não se aprendem,
amor que não se dá,
tudo quanto se esquece.


Amigos entre adeuses,
crianças chorando na tempestade,
cidadãos assinando papéis, papéis, papéis...
até o fim do mundo assinando papéis.


E os pássaros detrás de grades de chuvas,
e os mortos em redôma de cânfora.

( E uma canção tão bela ! )

Tanto que fazer !
E nunca soubemos quem éramos
nem para quê.


Cecília Meireles (1901-1964) foi poetisa, professora, jornalista e pintora brasileira. Foi a primeira voz feminina, de grande expressão na literatura brasileira, com mais de 50 obras publicadas. Com 18 anos estréia na literatura com o livro "Espectros". Participou do grupo literário da Revista Festa, grupo católico, conservador e anti-modernista. Dessa vinculação herdou a tendência espiritualista que percorre seus trabalhos com frequência.


Aluno: Athos Dillan  nº: 06